Hipocrisia, homofobia que doença é a vossa?

   Foi hoje legalizada a adoção pela parte de casais homossexuais em Portugal e ouvi tantas opiniões asquerosas e sem nexo que decidi contar-vos a minha história.
   Após variados problemas de casório entre os meus pais, uma típica solução de casal heterossexual surgiu: fazer um filho para tentar reforçar a relação (a típica ideia que quando se ouve só dá vontade de rebentar crânios em dominó) e eu nasci. Uma linda pequena menina muito mimada pelos seus pais que tentavam fazer do seu melhor para se amar de novo. Eu não era a filha desejada, era um recurso extremos para salvar um casal. Com 3 anos tudo isto acabou. O divórcio chegou, mas nenhum dos dois tinha ou tentava ter condições para me guardar, afinal eu não passava do utensílio inútil que o ligaria ao seu ex conjugue. Fui parar a um lar, 3 anos e lá estava eu, rodeada de crianças na mesma situação que eu ou pior (ainda me lembro da Iara, filha de dois adolescentes inconscientes). O meu maior sonho passou de ser uma borboleta a ter alguém que me viesse buscar, alguém para me amar, para me ensinar coisas e me mostrar o mundo.
   E alguém apareceu, eram dois homens, foram eles que me acolheram. Foram estes dois homens que me amaram, que me salvaram daquele casal heterossexual ao qual estou, infelizmente, ligada de sangue, e ao qual tenho a obrigação de chamar de progenitores. Este casal que me veio buscar por me desejar na sua vida, este sim é o casal ao qual posso chamar pais, porque pais não são quem te traz ao mundo mas sim os que te criam, os que te fazem viver e este sim é o casal que merece criar uma vida.
   E hoje, tenho 25 anos, todos os meus círculos de amigos conhecem os meus pais e adoram-nos (não tanto como eu). E não, não odeio os meus progenitores, só tenho pena deles, pena de todos esses casais heterossexuais com o poder de dar uma vida e de não aceitar que um outro casal possa ter o direito de alimentar e construir vidas que são abandonadas.
   No final de contas eles não estão a roubar nada, estão apenas a aproveitar o que outros casais não quiseram guardar.


          Vitória,  20/11/2015

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